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A Viúva Negra Brasileira

A advogada gaúcha Heloísa Borba Gonçalves, conhecida como Viúva Negra, passou mais de três décadas livre da prisão por matar três maridos e dois namorados. Ela foi condenada, em agosto de 2011, a 18 anos de prisão. Seus crimes formam cometidos entre 1971 e 1992. Procurada pela Interpol, a advogada brasileira foi a protagonista de uma série de mortes, estelionatos, poligamia e dinheiro. Muito dinheiro.

 

“O primeiro marido foi assassinado e ela herdou bens; o segundo foi assassinado e ela herdou bens; o terceiro morreu, e ela herdou bens. É coincidência demais para ser só coincidência”, diz Paulo Ramalho, advogado assistente de acusação do MP.

Após a morte de seus companheiros, Heloísa teria herdado pelo menos sete apartamentos em Copacabana, na zona sul do Rio de Janeiro; três no Leblon (um deles na praia, de frente para o mar); duas casas no Jardim Botânico; três lojas e um apartamento na Barra da Tijuca (zona oeste). Estima-se que os bens herdados por ela cheguem ao valor de R$ 20 milhões. 



A história “amorosa” de Heloísa começou em 1969. Porém as suspeitas contra ela só começaram a dar frutos após a morte de seu terceiro marido, o tenente-coronel Jorge Ribeiro. O Ministério Público do Rio de Janeiro tenta driblar a defesa de Heloísa e convencer 12 jurados de que ela matou o militar do Exército e ainda era bígama. Foram sete relacionamentos, dos quais nasceram seis crianças. Cinco homens que teriam sido parceiros de Heloísa morreram - ela foi casada com quatro deles: dois assassinados, um em acidente de carro e outro de câncer, embora tivesse um dos braços quebrado. 

 

Heloísa nasceu no dia 13 de março de 1950 em Porto Alegre, Rio Grande do Sul. Aos 19 anos deu à luz sua primeira filha, Patrícia Luciana Gonçalves Pinto, com Carlos Pinto dos Santos. No ano seguinte ao nascimento da menina, engravidou novamente e afirmou que a criança era filha do médico gaúcho Guenther Joerg Wolf, de 38 anos, morto em um acidente de carro em 1971.

Ela ingressou na Justiça pedindo anulação de partilha, sequestro de bens e investigação de paternidade na 2ª e 3ª Vara de Família e Sucessão de Porto Alegre, no inventário de Wolf. O médico era solteiro e morreu quando dirigia seu carro, um Karmann Ghia, na cidade de Taquara (RS). O carro do médico colidiu contra um caminhão.



Em 1981, com 31 anos, Heloísa deu à luz outro menino, que ela só registrou um ano depois, em 1982. A paternidade foi assumida pelo securitário Irineu Duque Soares, de 41 anos. Os dois se casaram em maio de 1983 e cinco meses depois Irineu foi assassinado enquanto passava com a mulher e o filho no município de Magé, na Baixada Fluminense. O caso foi investigado pela 70ª DP (Piabetá). Irineu foi morto a tiros enquanto passava com a família pela Baixada Fluminense. Heloísa contou à polícia que foi um assalto e as investigações reconheceram o latrocínio


Heloísa contou à polícia que ela e o marido tinham ido à Baixada resolver “assuntos pessoais”. Sua filha mais velha, Patrícia, então com 14 anos, o filho do casal, Daniel Gonçalves Soares, então com 2 anos, e a babá da criança estavam no veículo. De acordo com depoimento que Heloísa teria prestado à época, um homem negro, com uma cicatriz no rosto, rendeu Irineu com uma arma e anunciou um assalto, quando a família passava pela Estrada da Tocaia. Heloísa relatou ter fugido com a babá e as crianças e quando voltou encontrou o marido morto.

O ladrão teria levado duas alianças e quatro pulseiras de ouro, além de Cr$ 176 mil em espécie e talões de cheque. A polícia concluiu que o crime foi cometido por um assaltante conhecido como Bira Cicatriz, que morreu após a morte de Irineu. Heloísa herdou apartamentos, telefones, uma sala comercial em Botafogo (zona sul), e cadernetas de poupança, conforme registro nº 40.332, do inventário na 4ª Vara de Órfãos e Sucessão.


 

Três casamentos em cinco anos

Documentos anexados à acusação do MP mostram que em 1985 Heloísa se casou com o policial militar Roberto Souza Lopes, de 34 anos. Neste ano, ela recebeu registro de advogada pela OAB-RJ.

Em julho 1989, aos 40 anos - e ainda casada com o PM Roberto -, Heloísa se casou com o tenente-coronel da reserva Jorge Ribeiro, de 51 anos, usando o nome Heloísa Gonçalves Duque Soares. Menos de um ano depois, em maio de 1990, a advogada selou matrimônio com Nicolau Saad, que tinha 70 anos. Nessa, usou o nome Heloísa Borba Gonçalves. Ela afirmou que estava grávida e convenceu Jorge e Saad a assumirem a criança. Aos 70 anos de idade, Nicolau reconhece Marcelo sem saber que a mulher também planejava registrar a criança com outro marido


As informações anexadas ao processo do MP mostram que, em 31 de julho de 1990, o comerciante libanês registrou Marcelo Fontelles Saad como seu filho e de sua mulher Heloísa Saad. Duas semanas depois, Jorge também registrou a criança como Marcelo Jorge Gonçalves Ribeiro, filho de Heloísa Gonçalves Duque Ribeiro. Em novembro Heloísa oficializou o divórcio com o PM Roberto. Treze dias depois de Nicolau registrar o bebê, Jorge também reconhece a paternidade do menino; Heloísa usou suas múltiplas identidades para fazer as certidões


 

Maridos morrem e a "Viúva Negra" herda bens

Nicolau Saad faleceu no dia 29 de dezembro de 1991. O atestado de óbito informa que ele sofria de câncer e teve uma parada cardíaca. O documento, porém, ressalta que na hora da morte ele estava com o braço direito quebrado.


 

Após a morte de Nicolau Saad, Heloísa transferiu apartamentos e outros imóveis que pertenciam ao comerciante aos seus seis filhos, como mostram documentos registrados nas folhas 143,145, 147, 149, 153 e 168 do livro SI - 306 do 14º Ofício de Notas, na sucursal Ipanema. Nicolau morreu de parada cardíaca, em 1991. Tinha o braço direito quebrado, mas o óbito não diz se fora engessado (o iG pôs gesso na ilustração para sinalizar a fratura)


Um mês e meio após a morte de Nicolau, Jorge foi assassinado na sala comercial em que trabalhava em Copacabana, como registrado no Boletim de Ocorrência nº 000962/92 da 12ª DP (Copacabana). Estava com os braços amarrados para trás, a boca amordaçada, jogado no chão de barriga para baixo e com diversos golpes de marreta na cabeça. As investigações concluíram que Jorge foi morto a golpes de marreta na cabeça. Foi encontrado por um homem que procurava emprego em seu escritório, amordaçado e no chão


 


No dia do crime, Heloísa afirmou à polícia que o militar dormira em sua casa. Saíram juntos para o trabalho às 6h e 30min e tomaram um café na portaria do edifício onde Jorge trabalhava com venda e aluguel de linhas telefônicas e imóveis. Ela diz que ficou na portaria, pois esperava três pedreiros que iriam reformar dois apartamentos do casal. Heloísa também afirmou que a vítima não tinha inimigos, mas que um mês antes de morrer teria dito que estava sendo ameaçado. Contou que Jorge carregava uma mochila com cerca de “US$ 60 ou US$ 80 mil dólares”, e que estavam separados “há um ano”.

Doze anos depois do crime, a "Viúva Negra" foi ouvida por carta precatória pela Justiça de Brasília. Seu primeiro amante, Carlos Pinto da Silva – que assim como ela é advogado –, a representou. Diferentemente da primeira versão, Heloísa contou que passou apenas três meses casada com Jorge e que só se uniu a ele para “se mostrar” a Nicolau, com quem namorava “há algum tempo”.



 

Afirmou que a separação se deu porque o militar seria "agiota”, e “mentia muito”, além de “ter muitos inimigos”. Também declarou que a renda de Jorge “não era lá grande coisa” e que que havia tido prejuízo com o casamento. Com a morte do tenente-coronel, Heloísa e o filho que ele registrou teriam recebido uma casa no Jardim Botânico (zona sul), um apartamento na Barra da Tijuca (zona oeste), uma sala comercial em Copacabana (zona sul) e uma cobertura na Ilha do Governador (zona norte).

Após quase 10 horas de julgamento, a advogada Heloísa foi considerada culpada e condenada a 18 anos de prisão. As acusações contra a advogada eram muitas, uma lista bem grande e o fato de estar foragida há mais de 30 anos e não ter comparecido ao julgamento fez com que ela parecesse ainda mais culpada. Mesmo foragida, ela foi julgada, pois seus crismes prescreveriam em apenas dois anos.


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